A janela de si mesmo
Oscar D’Ambrosio
Um dia tem 24 horas. Não há nenhuma novidade nisso. E estar recluso significa estar preso. Também não temos aí nenhum conceito inovador. O que é desafiador é que, nestes dias de reclusão, estamos, durante todo o dia, por alguns dias, dependendo da região do planeta, longe dos outros.
E não se trata de uma imposição autoritária, mas de uma atitude solidária. Essa situação é inovadora. Isolar-se para auxiliar os outros e a si mesmo leva a uma reflexão. E isso significa pensar, algo que a reclusão estimula. Na correria do dia a dia, das horas de trânsito e transporte público, estávamos nos movimentando, mas não necessariamente pensando.
Estacionar para pensar é muito mais duro do que se podia imaginar em um primeiro momento. Uma coisa é escolher parar, numa espécie de ano sabático, para redirecionar a vida. Outra é ser obrigado a desacelerar fisicamente para contemplar um mundo em transformação sem saber exatamente qual é a nova direção a seguir.
Nestes reclusos dias, portanto, duas atividades se complementam. Olha-se pela janela para ver o mundo e perscruta-se dentro de nós mesmos para que que possamos nos encontrar. Essas atividades são complementares e, se forem realizadas de maneira ativa, nos obrigam a concluir que somos janelas a ser desvendadas. E quanto mais nos olhamos, mais descobrimos.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto #arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br