Parceria entre Unesp e Open University of London envolve Agroecologia e Economia Solidária
por: ACI Unesp
m atividade desde 2017, uma parceria entre a Unesp e Open University of London, do Reino Unido, trabalha no desenvolvimento de pesquisas a respeito da diversidade de iniciativas agroecológicas no Brasil e América Latina. A colaboração foi estabelecida pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe (TerritoriAL), localizado em São Paulo.
O TerritoriAl é ligado ao Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI) e é fruto do conhecimento e da tradição da Unesp em pesquisa e extensão sobre a questão agrária. O programa é voltado para a formação de pessoas oriundas dos territórios camponeses, quilombolas, indígenas e de populações tradicionais em geral, além de pessoas que atuem para o desenvolvimento dessas comunidades, contando com o apoio da Unesco, Pronera, CNPq, CLACSO e CAPES.
Entre as ações produzidas pela parceria com a Open University of London estão a mobilidade de pesquisadores britânicos para o Brasil e vice-versa e visitas a propriedades, cooperativas e comunidades tradicionais em que é colocado em prática diferentes experiências de produção agroecológica, além de eventos científicos e discussões sobre a publicação de artigos em conjunto.
Visita internacional
Apoiado pela universidade britânica, o professor Les Levidow veio ao Brasil para realização de uma primeira expedição em que participaram o professor Davis Gruber Sansolo, coordenador do TerritoriAL e a pesquisadora Mônica Schiavinatto, pós-doc vinculada ao programa. Na oportunidade foram visitados alguns modelos distintos de produção agrícola, alternativos ao modelo resultante da chamada “revolução verde”.
Com um roteiro de entrevista semiestruturadas, o grupo saiu de São Paulo, para conhecer a Fazenda Demétria, em Botucatu, onde o principal foco é a pecuária leiteira e cuja produção é baseada nos princípios da biodinâmica, desenvolvidos por Rudolf Steiner, na década de 1920. Em seguida visitamos a Fazenda Toca, em Itirapina, conhecida pelo modelo de produção agroflorestal em larga escala. Posteriormente o grupo direcionou-se ao Assentamento Mário Lago em Ribeirão Preto, onde foi conhecer uma cooperativa ligada ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. O assentamento Mário Lago é referência na produção agroflorestal e frequentemente, abre espaço para formação de outros produtores e de outros assentamentos da reforma agrária.
Como último estágio dessa expedição, os pesquisadores estiveram em Paraty e Ubatuba, onde visitaram algumas iniciativas de produção agroflorestal e de produção orgânica, vinculadas ao Fórum de Comunidades Tradicionais, organização composta por quilombolas, caiçaras e indígenas.
A partir das visitas, a equipe realizou diversos registros, comparações e reflexões e alguns resultados foram apresentados em eventos internacionais e em breve será publicado em um capítulo de livro organizado pelo TerritoriAL.
Em continuidade a essa parceria, em fevereiro de 2019 foi desenvolvido um novo planejamento para dar continuidade ao trabalho iniciado em 2017. Entre 08 e 12 de abril novas atividades foram desenvolvidas resultantes do apoio da Open University of London, da Unesp e do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista.
No dia 08 de abril foi realizado no auditório do Campus Litoral Paulista o “I Seminário de Agroecologia e Economia Solidária da Baixada Santista.” Participaram desse encontro, professores e pesquisadores do Centro de Ciência e Tecnologia para Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional da Unesp, o INTERSSAN, representantes de redes de consumidores de produtos agroecológicos de Santos; Articulação Paulista de Agroecologia, Representantes de Aldeias Guaranis e Tupi Guaranis da Baixada Santista; Organização de Mulheres produtoras Rurais; FUNAI; CATI e representantes do poder público dos municípios de São Vicente, Santos, Itanhaém e Peruíbe, além de professores e alunos do TerritoriAL e do CLP da UNESP.
Os objetivos desse seminário foram a promoção de diálogo, para formação e fortalecimento, de uma rede de economia solidária, baseada na produção agroecológica. Além disso, a apresentação de demandas para pesquisa e extensão, para o fortalecimento dessa relação entre a agroecologia e a economia solidária no Litoral Paulista, onde vivem um grande contingente de populações marginalizadas tradicionais e não tradicionais.
Após a apresentação das iniciativas de agroecologia e economia solidária da Baixada Santista, foram formados grupos de trabalhos em que se discutiram as principais demandas para pesquisa e extensão, para o fortalecimento da Agroecologia e Economia Solidária. Tais demandas serão inclusas em um projeto de pesquisa que está sendo escrito conjuntamente entre os pesquisadores da Unesp e da Open University.
Após o Seminário o professor Les Levidow, o professor Davis Sansolo e a pesquisadora Mônica Schiavinatto foram para uma nova expedição entre os dias 09 e 12 de abril, em que conheceram de perto algumas iniciativas de Agroecologia e Economia Solidária na Baixada Santista, Vale do Ribeira e Litoral Sul.
As visitam incluíram o Banco de Alimentos da Prefeitura de Itanhém, uma das estruturas de apoio a soberania e segurança alimentar na cidade e a Sede da FUNAI no Litoral, onde foi tratada a questão da soberania e segurança alimentar dos Guaranis e Tupi-Guaranis. O grupo também conheceu a feira do produtor rural de Peruíbe, onde há uma importante organização de mulheres produtoras rurais. Foram apresentadas as dificuldades dessas mulheres na participação no Programa de Aquisição de Alimentos e do Programa Nacional de Alimentação Escolar, políticas públicas que podem apoiar a agricultura familiar.
No dia seguinte, os pesquisadores viajaram para o município de Barra do Turvo, no Vale do Ribeira, para conhecer a Cooperafloresta, onde foi possível observar uma agroindústria, onde se processa produtos agroflorestais, provenientes, sobretudo, de terras quilombolas da região, além de conhecerem uma das propriedades para observação do sistema agroflorestal da região.
Como última iniciativa os pesquisadores foram ao Quilombo do Mandira, no município de Cananeia, onde observaram a produção de ostras e o vínculo com a economia solidária.
Próximos passos
Os próximos passos seguem na direção da formação de uma rede de pesquisa sobre agroecologia e economia solidária. Serão envolvidos pesquisadores da Comunidade de Pesquisa Jaina, a sediada em Tarija, região do sul da Bolívia, cujo trabalho é desenvolvido por meio da pesquisa-ação, com o campesinato e indígenas produtores de alimentos agroecológicos.
Estarão envolvidos também comunidades e produtores do Litoral Paulista e Sul Fluminense, pesquisadores da Unesp (TerritoriaAL e INTERSSAN) e da Open University of London.
O objetivo da rede é que os desafios de pesquisa possam ser enfrentados e assim favoreçam a produção de alimentos, limpa, justa e acessíveis e que, portanto, possam alcançar os objetivos da soberania e segurança alimentar das comunidades envolvidas e dessa maneira inspirar outras regiões e outras comunidades, à promoção da economia solidária baseada na produção agroecológica.