Por Oscar D’Ambrosio
Memórias de infância são uma excelente maneira de conduzir uma carreira artística e de tornar universais experiências individuais. O filme tcheco “Po Strnisti Bos – Barefoot, em inglês”, dirigido por Jan Sverak a partir de um romance do seu pai, Zdenek, é uma prova disso do primeiro ao último minuto.
O eixo é um menino que, inocentemente, denuncia que o pai, em Praga, ouvia rádios estrangeiras contra o nazismo. O resultado foi a obrigatoriedade de se mudar para o interior do país, para uma pequena comunidade rural. E tudo se torna diferente. Desde ao hábito de andar descalço, daí o título em inglês, até as mais diversas ações cotidianas.
A fotografia valoriza as mais variadas cenas, desde as crianças sobre uma ponte urinando em soldados nazistas até a cena da bela mãe do protagonista passando em revista uma tropa para identificar o soldado russo que confiscara ilegalmente seu aspirador de pó. Tudo ocorre com comovente simplicidade, sem grandiloquência.
Os fatos cotidianos ganham grandeza de sentimento justamente pelo foco narrativo e por cada elemento ser visto com profundidade. Isso inclui desde mortes em nome da pátria a rivalidades familiares. A delicadeza, o lirismo e o humor são conduzidos com maestria num filme que pede carinhosas revisões.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.