“Cinema, o retrato da vida”, por Oscar D’Ambrosio, hoje apresentando: Formas de violência

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Oscar D'Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Por Oscar D’Ambrosio

A disputa pelo espaço físico e psicológico pelo espaço torna o filme “O Farol”, do diretor Robert Eggers, uma grata surpresa visual. Baseado no debate de ideias e a luta psicológica e física entre os personagens interpretados por Willem Dafoe e Robert Pattinson constitui um mergulho visual nos caminhos que podem ser percorridos pela alma humana em sua degradação.

O enredo é simples – e decorre de uma aparente dualidade elementar toda a complexidade da narrativa. De um lado, está um capitão mais velho, agressivo, que não deixa os novatos entrarem na parte superior do farol, onde se localiza a luz que orienta os viajantes.

Do outro, temos o jovem recém-chegado, que deseja conhecer o local reservado pelo chefe a si mesmo de qualquer maneira. O embate se dá pelas palavras inicialmente, chegando, aos poucos, aos mais variados tipos de agressão. O desfecho que conduz a uma destruição mútua é previsível, o que não torna o filme menos denso.

A presença das ondas do mar e das gaivotas é uma constante. As imagens acentuam o poder da natureza selvagem nas disputas. Existe um movimento constante que relaciona a força dos elementos extrínsecos aos personagens aos seus dilemas e conflitos interiores e brutais em um clima de desesperada opressão.

Ocorre uma fundamentação arquetípica e mitológica no acirramento da violência entre os protagonistas. Há ecos de Prometeu, o titã responsável por guardar o fogo da inteligência para a humanidade. Mas, ao mesmo tempo, se faz presença de Ícaro, pois aquele que está próximo dessa mesma chama divina pode se queimar para sempre.

Ao apostar nas ambiguidades, o filme oferece as mais variadas interpretações. O confinamento de dois personagens, igualmente fortes, cada qual ao seu modo, numa ilha da qual existem poucas oportunidades de escape, acentua o tom claustrofóbico que encaminha a melancólica validação da violência a qualquer custo para obter o que se deseja.

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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