Por Oscar D’Ambrosio
Existe uma glamourização dos artistas que pouco contribui para a arte. Criadores na literatura, na pintura ou na música costumam ser vistos como heróis marginalizados e seres excêntricos, quando, de fato, são seres humanos como quaisquer outros, com seus méritos, deméritos, qualidades e idiossincrasias.
O filme uruguaio “Belmonte”, de Federico Veiroj, apresenta essa questão de uma maneira simples e funcional. A narrativa se concentra no processo do pintor que intitula a obra para preparar uma exposição. Isso inclui desde momentos da ação sobre as telas até a escolha da capa do catálogo e a distribuição dos quadros no espaço expositivo.
O curioso é que essas ações correm em paralelo a uma vida absolutamente comum: seu relacionamento com a filha, seus processos de sedução afetiva, a venda de quadros, a falta de diálogo com o pai e uma relação de mescla de sentimentos com o irmão. É a existência real e concreta que alimenta a jornada plástica.
O bonito do filme é que o cotidiano do artista não parece ser melhor ou pior do que aquele de uma pessoa que abraçou uma outra profissão. É nesse ponto que está a grandeza da narrativa. Artistas não podem ser divinizados ou estigmatizados de qualquer forma. Tem ônus e bônus em sua existência como qualquer outra pessoa. E percorrem sua estrada das mais diversas maneiras.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.