‘Dores de quem corre”, é o artigo da especialista Ana Paula Simões

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Por Ana Paula Simões

Quando estamos correndo, podemos dar até 200 passos por minuto. Cada passo faz um impacto que envia uma forte energia através de seus pés, tornozelos, pernas, panturrilhas e joelhos. Essa força é transmitida também aos quadris e até mesmo para o abdômen e região lombar. Eventualmente, todos esses impactos irão inevitavelmente causar um pouco de dor.

Para alguns corredores profissionais, a dor é inevitável; já os corredores recreacionais têm problemas para lidar com a dor, pois ainda não estão acostumados nem sabem identificar a gravidade delas. Não se pode simplesmente “ignorar” a dor, no entanto, a chave para administrá-la é saber a diferença entre uma dor temporária, dor grave o suficiente para empregar gelo e compressão, e algo que requer uma visita ao ortopedista.

Conheça algumas das principais causas mais comuns de dor em corredores. Desta vez, abordaremos as cinco causas restantes. Confira:

Fratura por estresse
A fratura por estresse é uma pequena fratura no osso (fratura incompleta) que não é causada por trauma, mas pela aplicação repetida de forças durante o exercício. As forças poderiam vir de execução impactos ou de músculos e tendões puxando com força no osso. Se não for tratada, o osso pode quebrar completamente (fratura completa).

Nós, médicos especializados em esportes, sabemos que a forma do osso, a densidade óssea, a condição muscular e a condição dos calçados podem desempenhar um papel no risco de fratura por estresse. Atletas iniciantes e despreparados fisicamente correm mais riscos, e atletas do sexo feminino estão estatisticamente mais propícias a essa lesão. A tíbia é o osso mais acometido na fratura por estresse.

Pode ser difícil evitar uma fratura por estresse, uma vez que são raras e podem ser causadas por muitos fatores. O mais importante a fazer é parar de correr assim que houver a suspeita de uma fratura por estresse, ou seja, sentir uma dor insidiosa no osso, que corredores descrevem como uma dor profunda que piora ao longo de uma corrida, geralmente em um lugar muito sensível sobre o osso. É necessário procurar um ortopedista para fazer uma avaliação e confirmar o diagnóstico.

Bursite
As articulações são cheias de tecidos conjuntivos e fluidos lubrificantes (líquido sinovial) para mantê-las se movimentando suavemente. Um dos principais agentes de amortecimento de impacto são as bursas, pequenos sacos de fluidos que absorvem choques e mantêm os ossos longe dos atritos uns dos outros nas articulações. Movimentos repetitivos, como corrida de longa distância, podem colocar muita pressão sobre as bursas.
Elas podem se tornar dolorosamente inflamadas, uma condição conhecida como bursite.
Ocorre em alguns casos rigidez articular e dores nas articulações, que podem ficar visivelmente vermelhas ou inchadas.

Os corredores são ais suscetíveis à bursite nos quadris, joelhos e calcanhares (arremessadores de beisebol e jogadores de vôlei e basquete tendem a ter bursite nos ombros). Em alguns casos, a bursa pode ser perfurada, o que pode levar a infecção e um problema mais sério conhecido como bursite séptica.

O tratamento inicial é simples: imobilizar e descansar a articulação, aplicar gelo e tomar medicamentos anti-inflamatórios.

Estiramento/Distensão/Lesão Muscular
Estiramento, distensão ou lesão muscular descrevem mais ou menos a mesma fisiopatologia da lesão. Elas podem resultar de músculos que não foram alongados ou aquecidos adequadamente, ou o uso excessivo do músculo por um movimento repetitivo, ou até mesmo um movimento poderoso e súbito como saltar ou explodir (saída/largada) fora dos blocos de partida em sprints (tiros).

A lesão muscular mostra-se como uma dor súbita na corrida que não vai embora e mantém-se constante durante todo treino/prova. Mais tarde, ele se tornará inchado, doloroso e, possivelmente, ruborizado.

O tratamento é semelhante em todos os casos de lesões musculares e varia de acordo com o grau da lesão e o tempo de recuperação à medida que aumenta a gravidade. Iniciamos com proteção, repouso, gelo, compressão, elevação – conhecido como PRICE, método seguido de reabilitação dos músculos danificados com exercícios leves-, fisioterapia e massagem muscular profunda para evitar a formação de tecido cicatricial dentro do músculo.

Tendinite
Os tendões são estruturas de tecidos conjuntivo que funcionam ancorando os músculos aos ossos. Quadris, joelhos, tornozelos e pés são todos os lugares possíveis onde um corredor pode sofrer de tendinite.

A tendinite ocorre quando o tendão se torna inflamado ou danificado por excesso de uso. No jogo de tênis, por exemplo, ocorrem as tendinites e epicondilites do cotovelo. Corredores podem ter uma dificuldade particular com o tendão de Aquiles.

O tratamento da tendinite assemelha-se aos de outras lesões desportivas (PRICE).  O corredor pode não perceber quando tem tendinite no princípio, até que se torne visivelmente inchado, com a articulação quase rígida devido à dor. É mais fácil de tratar quando diagnosticada no início, por isso a cautela é a melhor maneira de prevenir.

Câimbra
Câimbras musculares podem ser bastante limitantes. O músculo se contrai incansavelmente e, mesmo que dure apenas alguns segundos, a dor é bastante aguda. Felizmente, não levam a lesões graves (embora você possa experimentar alguma dor muscular no dia seguinte). Infelizmente, ninguém sabe exatamente a real causa ou como preveni-las, existem apenas hipóteses.

Muitos acreditam que a desidratação leva a câimbras, mas isso não ocorre em alguns casos. Estudos têm demonstrado que a hidratação não é a questão subjacente, embora possa ser um desequilíbrio eletrolítico, caso em que a ingestão de bebidas esportivas eletrolíticas poderia ajudar.

Podem ser causadas por alteração nervosa/neurológica devido à fadiga muscular, o que seria evitável comendo carboidratos antes das provas. Algumas pessoas que sofrem de câimbras têm encontrado alívio com massagem muscular profunda.

Existem algumas condições médicas que aparecem como câimbras musculares, por isso, se você tem essa queixa frequente, procure um especialista para investigar!

Bons treinos!

Fonte: http://www.selfgrowth.com/articles/sundquist.html

Ana Paula Simões é Professora Instrutora da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Mestre em Medicina, Ortopedia e Traumatologia e Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé, da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte; e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.

 

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