Conheça a trajetória de Antonio Carlos Tadiotti na universidade e sua carreira profissional
Quando o Antonio Carlos Tadiotti ingressou no Instituto de Química de Araraquara, ele ainda não era vinculado a UNESP. Tadiotti é empresário, dono da maior processadora de goiaba do mundo – a empresa brasileira Predilecta. Entre compromissos e uma agenda de viagens, Antonio reservou um tempinho para compartilhar com a comunidade Alumni UNESP um pouco da sua história na universidade.
Essa história começa em 1970, quando Tadiotti decidiu cursar a faculdade por dois motivos: “a primeira, para estudar química, minha única opção de curso; e a segunda, para cursar em uma faculdade próxima, a 35 km de casa, e de amplo reconhecimento em nosso estado”, relembra o empresário. 49 anos depois, o curso do Instituto de Química continua no mesmo espaço físico, ainda que diversas outras coisas tenham mudado.
“Era uma época que se exigia muito do aluno, com provas e exames orais, uma carga horária muito extensa – inclusive com aulas aos sábados; e não existiam computadores, microfones, apostilas…” revela o egresso. “Livros somente em inglês e muitos trabalhos de pesquisas, e sem o Google, a gente passava bastante tempo nas bibliotecas”.
Tanta disciplina e rigidez não impediu Antonio de viver a vida universitária, experiência que mais marcou sua trajetória na Unesp. “Não podíamos ir pra casa por conta do custo e pela grande carga horária. Isto fez com que a gente se fortalecesse na amizade e companheirismo”. Para além da aulas na faculdade, foi nessa época militar que ele e outros estudantes criaram o centro acadêmico do Instituto de Química, motivados por ajudar os alunos que tinham problemas financeiros.
A gente sabe que o tempo na UNESP é um período que deixa saudades – seja pelas pessoas ou pelos projetos que participamos durante a graduação, pós-graduação. Com o Antonio não foi diferente. Perguntado sobre o que mais sente falta de quando estudava na Unesp, a resposta foi certeira: das grandes amizades e das realizações do Centro Acadêmico. “Resumindo, é uma convivência que perdura até hoje com os que terminaram o curso; de 40 alunos, saímos em 13 e nestes 46 anos de formados ainda nos reunimos com nossas famílias com encontros anuais”, pontua.
‘Sonho’
“Meu sonho era a indústria”, comenta Antonio Carlos Tadiotti sobre o início da sua carreira profissional. Tadiotti se formou em 1973, mas dificuldade para ingressar neste mercado era grande e as oportunidades, poucas. No ano seguinte ao da formatura, ele começou o Mestrado no Instituto de Energia Atômica (IEA), com bolsa mista estadual e federal; dois anos depois, foi contratado como pesquisador e docente nuclear – antes mesmo de concluir a pós-graduação.
Durante 14 anos, Antonio trabalhou em uma indústria multinacional suíça, no interior de São Paulo. O período foi marcado pela especialização no processamento de frutas e vegetais em conservas, com aprendizado em várias fábricas na Suíça, Itália, Espanha, Holanda e França. “Foram nessas oportunidades que eu absorvi as tecnologias até então raríssimas no nosso país. Assumi vários cargos como gerente de produção, diretor industrial e diretor de planejamento nos anos que trabalhei por lá. No 15° ano, com mais dois colegas de trabalho resolvemos arriscar a montar uma pequena empresa no mesmo segmento”, revela.
Foi assim que começou a Predilecta, em Matão, no interior de São Paulo. Hoje, com 27 anos de existência, a empresa familiar é referência no Brasil e no exterior, exportando para mais de 60 países; conta com 4 megas empresas em várias regiões produtoras e com 3800 trabalhos diretos. O faturamento anual é R$ 1,6 bilhão, segundo reportagem do Globo Rural.
O rei da goiabada
Ao perguntarmos sobre como foi começar uma empresa do zero, Antonio Tadiotti não hesitou em responder: “foi uma época de muito choro; eu saí de uma multinacional engravatado e fui fazer goiabada em um tachinho de inox”.
O empresário conta que no começo, em 1991, quem sustentava a família era a esposa, que também estudou na UNESP – cursou Letras e se formou no mesmo ano que ele. “Ela tinha um loja pequena em São Carlos e dava aulas no estado. Vendíamos o produto em sacolões, escolas com os professores amigos, e pequenos armazéns”.
Entre descarregar tratores, kombis com goiabas, processar as frutas, empacota-las e vendê-las, Antonio revela que trabalhava 15 horas por dia. “E sem dinheiro, pois para comprar o mínimo de equipamento, tudo que tinha construído de patrimônio ficou hipotecado por 5 anos. Muito me ajudou o Sr. Collor de Mello, quando em 1991, ele deixou todo mundo pobre com 50.000 cruzeiros (nem lembro se essa era a moeda). Eu só tinha dívida”.
O Brasil de 1990 enfrentava uma das piores crises da história. A Predilecta foi fundada em um período de recessão, caracterizado pelo fechamento de grandes empresas e o aumento do desemprego. O episódio ao que Antonio se refere foi uma das primeiras medidas econômicas do Governo Collor, que confiscou o dinheiro depositado em bancos por pessoas físicas e jurídicas.
Para driblar a crise e se estabelecer, Tadiotti apostou no relacionamento que havia construído durante os 15 anos na outra empresa. “Foi a salvação, pois todos os profissionais de empresas fornecedoras acreditaram na minha capacidade profissional e forneceram o básico para o começo – até emprestando equipamentos de demonstração por quase um ano”, relembra. “Em dois anos a Predilecta ficou autossustentável e teve um crescimento fantástico, com grande expressão nacional”.
Responsabilidade acadêmica
Para além da responsabilidade social, a Predilecta colabora com desenvolvimento de trabalhos acadêmicos. Ao longo dos anos, a empresa participou de várias teses de doutorado, mestrado, trabalhos de conclusão de curso, iniciações científicas, projetos e estágios supervisionados. Entre as instituições de ensino superior “parceiras” dessa ação, Antonio destaca os campus da UNESP em Araraquara, São José do Rio Preto e Jaboticabal, além da USP São Carlos, ESALQ, das federais de São Carlos, de Goiás, de Minas Gerais e Unicamp.
“Creio que o mérito de tudo isso veio a partir da minha experiência de docente e, em seguida, atuar no setor privado com grandes relacionamentos com as universidades”, declara o empresário. Tadiotti fala que tudo começou em São Carlos, quando o Departamento de Hidráulica e Saneamento da USP realizou 5 teses de mestrado ao mesmo tempo na empresa. O objetivo era tratar efluentes líquidos de lavagem e processamento de frutas – na época, tomate, goiaba e milho doce – para atender a legislação; as pesquisas foram elaboradas junto a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), órgão que fiscaliza atividades geradoras de poluição para preservar a qualidade do ar, do solo e d água.
Entre os cinco trabalhos, foi escolhida tese com melhor resultado para começar a implantar no Brasil uma nova tecnologia para tratar as águas de descarte das empresas.
“Daí, tanto fui procurado por docentes de universidades, como também por minha iniciativa, para cooperar no desenvolvimento de trabalhos acadêmicos. A Unesp Araraquara, pela proximidade, foi a mais integrada nesses trabalhos”, declara. “Inclusive, os resultados de novas tecnologias na parte enzimática resultaram em uma mudança drástica de qualidade, além de outros atributos em produtos processados no mundo”. Tadiotti ressalta que todas as pesquisas desenvolvidas na empresa foram de aplicação prática, para solucionar demandas reais da indústria de alimentos.
Aos 71 anos, Antonio Carlos Tadiotti afirma que a experiência na UNESP foi fundamental para o seu desenvolvimento: “sem dúvida, todas as ferramentas que me foram atribuídas pelo curso e os conhecimentos adquiridos, a ética, os princípios, além dos ensinamentos, foram de real importância em minha formação”, conclui.