O animal, de aproximadamente 3 kg, foi achado por pescadores da comunidade quilombola de Ilha de Mercês
Na manhã da última quarta-feira, 28 de outubro, mais um peixe Mero, espécie ameaçada de extinção, foi encontrado morto no Rio Tatuoca, no trecho conhecido como “Camboa da Água Contra”.
O animal, de aproximadamente 3 kg, foi achado por pescadores da comunidade quilombola de Ilha de Mercês, localizada no Município de Ipojuca. O peixe estava em estado ainda inicial de decomposição, o que leva a crer que a morte aconteceu entre segunda e terça-feira desta semana.
Não é a primeira vez que aparece um Mero morto na localidade. Em março deste ano, uma denúncia foi elaborada pelo Fórum Suape Espaço Socioambiental e encaminhada para o Ministério Público Federal (MPF) e para a CPRH, relatando o constante aparecimento, desde janeiro, de indivíduos da espécie mortos nos trechos do Rio Tatuoca conhecidos como “Porto do Zumbi” e “Porto da Nailda”.
Na ocasião, foi solicitado à CPRH que adotasse providências urgentes no sentido de monitorar a qualidade das águas naquela área e arredores (acerca da presença de metais pesados, HPAs, POPs), e de averiguar se as intervenções promovidas pelo Porto de Suape e pelas indústrias instaladas nas proximidades têm ocasionado alterações danosas no habitat da espécie em questão. Outro peixe foi encontrado morto em setembro, mas, até agora, nenhuma resposta foi prestada pela autarquia.
Os locais em que os peixes Mero foram encontrados são próximos a um antigo trecho de mangue do Rio Tatuoca, que sofreu um grande aterro há quase dez anos para a construção de uma estrada de acesso aos estaleiros e para a construção de um outro empreendimento possivelmente um terceiro estaleiro que, no entanto, nunca se concretizou. Até hoje, tanto a estrada quanto a grande clareira desmatada encontram-se com sinais de abandono.
A comunidade de Ilha de Mercês relata, ainda, que, nessa região, já há alguns meses, tem ocorrido a proliferação anormal de algas filamentosas e águas-vivas da espécie Cassiopea sp, indicando a existência de um desequilíbrio ambiental. A presença de uma superpopulação dessas algas é indicativo de ambiente com excesso de matéria orgânica, que pode ser atribuído, por exemplo, à presença concentrada de esgoto não tratado.
A morte de peixes Mero e a proliferação anormal de organismos no Rio Tatuoca demonstram, portanto, a existência de um grave desequilíbrio ambiental. Todo esse cenário tem prejudicado, também, a comunidade quilombola de Ilha de Mercês, que depende da pesca artesanal para sobreviver.