Por José Ambrósio*
Foi bonita e emocionante de se ver a caminhada das mulheres por igualdade de gênero, respeito e nenhum direito a menos, na terça-feira (10.03) pelas ruas centrais do Cabo de Santo Agostinho. Reivindicações justas e urgentes e que não deveriam mais ser bandeiras de luta das mulheres, mas que foram empunhadas com muita garra por centenas delas.
Passava das 16h30 quando a marcha foi iniciada, saindo do Centro das Mulheres do Cabo, na Rua Padre Antônio Alves, n° 20, por trás do antigo (e desativado) Teatro Barreto Júnior. O sol ainda podia ser visto a poente e o calor era intenso, combustível adequado para impulsionar a caminhada que passou pela Praça Salgado Filho (antiga Praça da Banana) e pela antiga sede da prefeitura.
Mulheres de todos os extratos sociais e de todas as idades, inclusive jovens estudantes e crianças. Ato de luta, mas que elas conduziram com uma energia e alegria envolventes (apesar das histórias de sofrimentos de muitas delas) contagiando quem estava nas casas e estabelecimentos comerciais, que aplaudiam com entusiasmo a marcha.
Quantos sonhos desfeitos entre aquelas mulheres… mas, também, quantos sonhos renovados; quantos gritos de liberdade e de afirmação identitária, de autoconhecimento embalavam aquelas mulheres. Sabiam que lutavam por si próprias e por todas as mulheres e esse sentimento parecia ser compreendido por quem apenas assistia.
Repetiam – entre outras frases de efeito – que “quem ama não mata, não humilha, não maltrata”. Em outro alerta dirigido aos homens clamavam pela não-aceitação à violência contra as mulheres: “e se a vítima for a sua mãe, a sua filha, a sua irmã?”, indagavam, como forma de contribuir para a desconstrução do machismo exacerbado.
Uma breve parada para a mensagem da coordenadora geral do Centro das Mulheres do Cabo, Nivete Azevedo, ao lado da Praça Ministro André Cavalcanti, e elas seguiram ladeira abaixo, pela Avenida Dr. Antônio de Souza Leão, até chegar ao largo da Estação Ferroviária.
Organizada pelo Centro das Mulheres do Cabo, a caminhada marcou as celebrações pelo Dia Internacional da Mulher, no último dia 08 de março.
Muitos avanços foram conquistados desde o dia 08 de março de 1957, no mundo, mas as discriminações e a violência contra a mulher ainda são alarmantes. O Brasil é o 5º país no mundo onde mais se mata mulheres. Chocante? Sim, muito! Dói na alma tanta brutalidade!
Observem esses números: a cada dia, seis mulheres são assassinadas no Brasil, ou seja, uma a cada quatro horas.
Em Pernambuco, no ano passado, 198 mulheres foram assassinadas. O menor número dos últimos 15 anos, conforme a Secretaria de Defesa Social (SDS), mesmo assim, uma assustadora média de 16 assassinatos a cada mês. Em 2018 foram 242 homicídios, mais de 20 a cada mês.
Dos 198 assassinatos de mulheres de 2019, 57 foram tipificados como feminicídios – homicídio praticado contra a mulher por ela ser mulher -, 23% menos que em 2018, quando houve 74 mortes.
A cada dia do ano passado 115,8 denúncias de violência doméstica contra a mulher foram registradas na SDS, um total de 42.268 no ano.
O Ministério da Saúde registra que, no Brasil, a cada quatro minutos, uma mulher é agredida por ao menos um homem e sobrevive. No ano passado, foram registrados mais de 145 mil casos de violência — física, sexual, psicológica e de outros tipos — em que as vítimas sobreviveram. Cada registro pode incluir mais de um tipo de violência.
No Cabo de Santo Agostinho nove mulheres foram assassinadas no ano passado. Dois dos crimes já foram configurados como feminicídio. Em 2020, somente em janeiro, 12 mulheres já foram assassinadas em Pernambuco.
Como canta Milton Nascimento, é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana, é preciso ter sonho sempre. Sim, e essas Marias que até riem quando devem chorar sabem muito bem disso. Por isso essa força que nos alerta misturando a dor e a alegria, e a estranha mania de ter fé na vida.
Beijos para as três Marias da minha vida, que são a minha esposa Edna, a minha filha Juliana e a minha netinha Letícia.
Candeias, 13 de março de 2020.
*José Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras