O Poder do Perdão
Paulo Eduardo de Barros Fonseca
Aproximando-se de Jesus perguntou-lhe Pedro: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete.” (Mateus 18:21-22).
Nessa passagem, dois são os aspectos que destaco. O primeiro, aparentemente periférico, é relativo ao número sete e o segundo, enquanto o cerne da questão, inerente ao perdão propriamente dito.
Em relação ao primeiro aspecto: o número sete, Pitágoras, grande matemático da antiguidade, afirmou que o princípio de tudo é o número e que o número sete é o número perfeito. O número sete é a combinação do número três, representado por um triângulo, que significa o espírito, com o número quatro, representado por um quadrado, que representa a matéria.
Mais ainda, tanto na literatura sagrada como na filosofia é tido como o número sagrado, místico, perfeito e poderoso, porque indica o processo de passagem do conhecido para o desconhecido.
Sendo assim, o número sete significa a matéria iluminada pelo espírito, sendo o número da transformação, enquanto a primeira manifestação do homem para conhecer as coisas do espírito, as coisas de Deus, a Criação.
É o número da perfeição divina, pois no sétimo dia Deus descansou de todas as suas obras. Daí o apóstolo Pedro ter se apoiado no número sete ao indagar Jesus quantas vezes deveria perdoar.
Quanto ao segundo aspecto, relativo ao perdão, Jesus surpreende Pedro com sua resposta ao demonstrar que o perdão deve ser sempre exercido e, em seguida, contar-lhe a parábola comparando o Reino ao rei que perdoa o empregado que lhe deve uma fortuna, mas que este empregado, não perdoando ao seu devedor, deverá prestar contas ao rei por sua maldade.
Assim, reformulando a lei mosaica sem alterá-la, mas enfocando uma das mais complexas dificuldades do ser humano, Jesus demonstra em suas palavras e atos que devemos pedir perdão a Deus pelas ofensas que praticamos e, na mesma proporção, praticar o perdão para as eventuais ofensas que nos forem dirigidas.
Em relação aos atos que praticamos, há de existir o sincero arrependimento, aliando o sentimento à razão, e o intento da busca da reparação da falta cometida. Quanto as eventuais ofensas recebidas, o perdão deve partir do coração e não simplesmente dos lábios.
Kardec, no Evangelho Segundo o Espiritismo, consigna que “o verdadeiro perdão, o perdão cristão, é aquele que lança um véu sobre o passado, é o único que vos será contado, porque Deus não se contenta com a aparência: ele sonda o fundo dos corações e os mais secretos pensamentos; não se lhe engana com palavras e vãos simulacros. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é próprio das grandes almas; o rancor é sempre um sinal de rebaixamento e de inferioridade. Não olvides que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, bem mais que pelas palavras.” (Cap. X, pg. 105/106, Ide Editora, SP, 2011).
Infelizmente, passados mais de dois mil anos, a humanidade ainda tem dificuldade para assimilar e praticar este preceito, evidenciando que a caminhada do homem rumo à evolução espiritual ainda será árdua. Essa dificuldade, em grande parte, se dá por causa daquilo que chamamos de orgulho ferido.
Mas, é preciso lembrar que quando não perdoamos machucamos nosso coração e nossa alma. Por isso, é preciso ter claro que quem perdoa o próximo perdoa a si mesmo e, como consequência, recebe o perdão do Pai celestial.
O perdão beneficia aquele que perdoa, porque propicia ao indivíduo paz espiritual, equilíbrio emocional e lucidez mental.
Como esse é o poder do perdão, feliz é aquele que possui a fortuna do perdão para a distender largamente, sem parcimônia.
Paulo Eduardo de Barros Fonseca é vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Viera de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP).