Pesquisa mostra que inseticida afeta ciclo do bicho da seda

0
Mariposa tratada com ovos presos ao abdômen Imagem: arquivo/Marilucia Santorum

Estudo da doutora em Biotecnologia, Marilucia Santorum, põe em xeque produto utilizado no controle de pragas

Por: ACI IB Unesp Botucatu (Igor Medeiros via 4toques comunicação)

bióloga Marilucia Santorum, doutora pelo programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, do Instituto de Biociências da Unesp Botucatu, teve seu artigo  “Negative impact of Novaluron on the nontarget insect Bombyx mori (Lepidoptera: Bombycidae)” publicado neste  último mês de junho pela revista Environmental Pollution.

A pesquisa busca mostrar os efeitos nocivos do Novalurom, inseticida bastante usado para o controle de pragas agrícolas (insetos-alvos) no ciclo de vida do bicho-da-seda (inseto não-alvo) e que tem extrema importância econômica na produção de seda. Apesar de ser classificado como “pouco tóxico” (classe 4), pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o estudo de Marilucia traz evidências de que o produto pode ser letal para o bicho-da-seda, além de desencadear uma série de efeitos negativos no decorrer das várias fases do seu ciclo de vida.

“Este inseticida é utilizado em culturas agrícolas como soja, milho e cana-de-açúcar e, consequentemente, atinge as plantações de amoreira (alimento do bicho-da-seda), devido à deriva de resíduos advindo pela dispersão do inseticida nestas culturas agrícolas que estão localizadas nas proximidades das propriedades produtoras do bicho-da-seda. Especialmente no interior do Paraná, onde sericultores tem identificado mortes em massa do bicho-da-seda”, enfatiza Marilucia, que foi orientada durante o doutorado pela Profa. Dra. Daniela Carvalho dos Santos, também do IBB.

Marilucia Santorum, doutora pelo programa de Pós-Graduação em Biotecnologia do IB Unesp Botucatu

Sobre o experimento

Na pesquisa foram realizados dois experimentos, nos quais as lagartas foram separadas em: grupo controle (GC) e grupo tratamento (GT: tratado com 0,15 mL/L de Novaluron). No primeiro experimento, lagartas do GT no 3° instar larval (troca do exoesqueleto) foram alimentadas por 24 horas com folhas de amoreira tratadas com o inseticida. Já no segundo experimento foi realizada a exposição em lagartas do 5° instar larval.

No primeiro experimento, 10 dias após a exposição, verificou-se a mortalidade de 100% das lagartas do bicho-da-seda. E no segundo experimento houve 20% de mortes. Provavelmente esta menor taxa de mortalidade, em comparação ao segundo experimento, está associada a maior resistência da lagarta do bicho-da-seda, que foi exposta neste segundo experimento em uma fase mais avançada do seu ciclo de vida.

Casulos e larvas de bicho-da-seda dos grupos “controle” e “tratamento”

Porém, além da grande taxa de mortalidade, também foram evidenciados os efeitos prejudiciais deste inseticida no desenvolvimento do bicho-da-seda nos dois experimentos, como por exemplo com lagartas bem menores e frágeis. Além da construção de grande quantidade de casulos defeituosos, o que é prejuízo certo para produção de seda nacional.

“Mostramos apenas uma pequena parcela dos impactos que um agrotóxico pode trazer ao ecossistema, mas isso já nos dá ideia que ele [o inseticida] pode sim agredir o meio ambiente, outros insetos e espécies benéficas que possam ser expostas. E inclusive o homem, o fim da cadeia”, comenta.

O ciclo dos bicho-de-seda dura cerca de 40 dias, do ovo até à fase adulta (mariposa). Após ficar 20 dias se alimentando de folhas, as lagartas sintetizam e secretam as proteínas da seda (fibroína e sericina), principal matéria-prima utilizada comercialmente. Para se ter ideia, um único fio, produzido por casulo, pode chegar a 1.500 metros.

 

 

 

 

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here