Psicóloga fala sobre o fascínio e os limites emocionais que envolvem os bebês reborn

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Esses bonecos hiper-realistas, que simulam um recém-nascido nos mínimos detalhes, vêm ganhando espaço nas redes sociais e no mercado de brinquedos

O desejo por um bebê tranquilo, previsível e sempre calmo é mais comum do que se imagina — e pode ajudar a explicar o fascínio crescente pelos bebês reborn. Esses bonecos hiper-realistas, que simulam um recém-nascido nos mínimos detalhes, vêm ganhando espaço nas redes sociais e no mercado de brinquedos. Mas, para além da estética impecável, eles revelam questões profundas sobre as expectativas e emoções envolvidas na parentalidade.

“Você já desejou que seu filho fosse mais calmo, previsível, obediente? Talvez o que você esteja buscando não seja perfeição, mas segurança, previsibilidade e alívio para as ansiedades naturais que envolvem ser mãe ou pai”, explica a psicóloga clínica Erika Farias, especialista em coparentalidade e planos de parentalidade.

Segundo Erika, os bebês reborn muitas vezes representam, de forma simbólica, um ideal que os pais gostariam de encontrar na convivência com os filhos reais: um bebê que não chora, não demanda, não contraria. “A ideia de um filho obediente, previsível e sempre calmo é uma fantasia, e não um objetivo saudável. Os filhos são pessoas com desejos e necessidades próprias. Entender isso é fundamental para uma parentalidade mais consciente e afetiva.”

Quando o reborn acolhe — e quando alerta

Em contextos específicos, os reborns podem ter um papel terapêutico, como no caso de mães enlutadas, pessoas que enfrentam a infertilidade ou idosos com demência. Nesses casos, o boneco pode funcionar como objeto de transição, facilitando a elaboração do afeto.
No entanto, Erika alerta que o uso excessivo ou a substituição do vínculo com os filhos reais por uma relação idealizada com um boneco pode indicar dores emocionais não elaboradas. “É essencial que pais e cuidadores reconheçam suas emoções e frustrações, para que a relação com os filhos aconteça a partir do vínculo real — e não da idealização.”
Essa idealização pode ser ainda mais comum em contextos de separação, quando sentimentos de culpa ou insegurança levam alguns pais a buscarem, inconscientemente, o “filho perfeito” como forma de compensação. “Mas a parentalidade real é feita de imperfeição, de erro, de afeto e de presença — não de controle.”

Por meio de sua atuação clínica, Erika convida os pais a refletirem sobre seus ideais e a buscarem apoio psicológico sempre que perceberem que suas expectativas estão interferindo no vínculo com os filhos.

“Se você sente que está se distanciando do seu filho real por esperar demais — dele ou de você —, talvez seja hora de se acolher também.”

SERVIÇO:
Psicóloga Erika Farias
Especialista em Coparentalidade e Planos de Parentalidade
Instagram: @erikafariaspsi

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