A pesquisa analisou as trocas comunicativas na relação professor-estudante e estudante-estudante, focalizando a emergência da interação entre os conhecimentos dos estudantes, a partir, especialmente, das intervenções que são produzidas pelos mesmos na relação com o conteúdo lecionado dentro da sala de aula
O atual cenário social vem se deparando com mudanças no que se refere ao uso de tecnologias, como celulares, computadores e eletrônicos em geral. “Porém, na medida em que novas ferramentas são desenvolvidas, a elaboração de estudos que visem compreender as relações entre as ferramentas tecnológicas e processos psicológicos pode não acompanhar o mesmo ritmo”, segundo o psicólogo Emanuel Cordeiro. Autor da dissertação “A Mediação da Aprendizagem: um estudo de caso dos processos interacionais em ambientes presenciais e virtuais”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva da UFPE (PPGPsi), Cordeiro fez uma análise comparada entre a utilização de formas de interação em aulas presenciais e virtuais, com o uso do Facebook como plataforma digital.
A pesquisa analisou as trocas comunicativas na relação professor-estudante e estudante-estudante, focalizando a emergência da interação entre os conhecimentos dos estudantes, a partir, especialmente, das intervenções que são produzidas pelos mesmos na relação com o conteúdo lecionado dentro da sala de aula. A partir da análise de duas aulas e como elas se comportaram em diferentes ambientes de ensino, a dissertação apresenta e propõe uma análise favorecedora da diferenciação entre as formas interacionais e comunicacionais próprias à sala de aula presencial e sua configuração no ambiente virtual.
Para analisar as diferentes formas de interação no ambiente virtual e presencial, o autor fez uso de dois recursos metodológicos. O primeiro foi a criação de categorias que classificassem o modelo de interação, sendo estas: Padrão de Extração, Padrão de Validação, Padrão de Focalização, Exemplificação, Síntese conceitual e Divergência. “que podem ser entendidas a partir de dois subgrupos; o primeiro composto pelos padrões de extração, validação e focalização que constituem em sua definição regularidades interacionais que ocorrem pelo professor e pelos estudantes e o segundo grupo refere-se ao recurso discursivo utilizado pelo estudante ou professor que se relaciona ao modo de se comunicar no esforço de produção de sentido, estando presente em diversos contextos conversacionais”. O segundo recurso foi a aplicação de Análise de Redes Sociais por meio da quantificação de cada interação entre os participantes da pesquisa. Em seguida, foi demonstrado graficamente a partir da ARS as diferenças existentes entre o ambiente presencial e virtual.
A partir dessas categorias, a dissertação, orientada pela professora Marina Assis e coorientada pela professora Candy Laurendon, o pesquisador observou como as diferentes estratégias de ensino-aprendizagem alteravam as formas de diálogo no espaço estudado. E exemplificou: o ambiente virtual se caracteriza pelo uso mais constante do padrão de validação e o ambiente presencial pela divergência, ambos os ambientes fazem uso do padrão de extração, porém, as circunstâncias utilizadas se alteram. Como pode ser observado, o ambiente presencial faz uso desse padrão mais ao início da aula e o ambiente virtual em vários momentos no decorrer da aula. Já na aplicação da ARS foi possível observar no ambiente virtual interações mais constantes entre os próprios estudantes, diminuindo a centralização na figura do professor.
METODOLOGIA | O estudo contou com a participação de 26 estudantes, do 7º período do curso de Psicologia, e um professor, do mesmo curso, do ensino superior de uma universidade pública do estado de Pernambuco. Para caracterizar e medir como essas duas formas de aprendizado se relacionam o autor utilizou como softwares o Gephi v.0.9, para a análise de redes, e o SPSS v.21, para a elaboração dos gráficos que demonstram a utilização das categorias no decorrer das aulas.
A análise ocorreu em dois momentos, na sala de aula e no Facebook. “O primeiro momento do estudo teve como foco a sala de aula, buscando investigar as interações que constituem o campo da sala, assim como observar os recursos discursivos presentes no discurso dos agentes desse espaço. O segundo momento ocorreu como continuidade do primeiro, a mesma turma prosseguiu para uma segunda aula no ambiente virtual, no qual uma parte de determinado conteúdo programático foi abordada/discutida”, afirma o autor.