Por Elias Gomes*
Há 20 anos, em 26 de janeiro de 2000, a cidade do Cabo de Santo Agostinho estava em festa. Uma grande festa para comemorar um importante feito histórico, os 500 anos do desembarque do navegador espanhol Vicente Iáñez Pinzón na praia de Suape, três meses antes de Pedro Álvares Cabral chegar à Bahia no dia 22 de abril de 1500.
A celebração do V Centenário da chegada de Pinzón trouxe ao Cabo comitiva da cidade espanhola de Palos de la Frontera, de onde partiram as caravelas, no dia 16 de novembro de 1499. À frente da representação o alcalde (prefeito) dom Carmelo Romero Hernandez. O então governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, prestigiou as festividades.
O resgate do feito histórico, fundamentado em renomados historiadores como Capistrano de Abreu e Pereira da Costa, ganhava o endosso do historiador e professor da Universidade de Huelva, Julio Isquierdo Labrado, que integrou a representação espanhola.
A partir daquele ano e até 2004 foi intensa a movimentação de resgate da história e da cultura do município. As duas cidades (Cabo e Palos) tornaram-se irmãs. Monumentos foram inaugurados cá e lá. A identificação dos cabenses com o tema era tamanha que Pinzón passou a dar nome a empreendimentos variados, até mesmo a um jornal, o Jornal Pinzón.
Veículos de comunicação de todo o Brasil e de outros países passaram a noticiar o feito histórico. Lançamos o Festival Pinzón, que foi sucesso desde a 1ª edição. A praia de Gaibu ficava lotada para cantar ao lado de nomes nacionais como Zeca Baleiro, Cidade Negra, Alceu Valença e artistas da terra. Nesse embalo, nosso povo passou a cantar a sua cidade, algo nunca visto antes. (“…Cabo de Santo Agostinho, aqui nasceu o Brasil…”).
Passados 20 anos, o belo trabalho de resgate existe somente nos monumentos abandonados, nos recortes de jornais, álbuns de fotografias e na memória da nossa gente. Tudo foi desmontado pelo prefeito Lula Cabral e seu grupo político a partir de 2005.
O dia 26 de janeiro, desde 2005, é apenas ponto facultativo no município. Isso apesar de ser o Dia Municipal da Nacionalidade Hispânico-Brasileira. E como este ano caiu num domingo, foi mais uma razão para que muitos nem se lembrem desse dia.
Como a presença de grupos políticos no poder é cíclica, a ter fim a passagem de seu Cabral os livros serão reabertos e novas e belas páginas serão escritas pelas mãos de todos os cabenses, enriquecendo a nossa história de berço do descobrimento.
*Elias Gomes é ex-prefeito do Cabo de Santo Agostinho