Agricultura depois da pandemia
José Zeferino Pedrozo
Ainda é cedo para conhecer a dimensão dos estragos humanos e econômicos da pandemia no Brasil. Ainda não se sabe tudo sobre o novo coronavírus nem sobre a doença que ele causa, a Covid-19. Existem muitas incertezas no presente e no horizonte de curto prazo. Uma das poucas convicções produzidas pelo episódio que estamos vivendo é: nada mais será como antes.
Muitas mudanças e transformações ocorrerão em todas as áreas da atividade humana, seja pessoal, familiar, empresarial ou social. A agricultura não ficará de fora. Embora imprescindíveis, as medidas de combate à pandemia – especialmente o isolamento social – têm profundo efeitos econômicos: inviabilizam empresas, impedem atividades ocupacionais formais e informais, destroem empregos e derrubam a atividade econômica. O desafio crucial dos gestores públicos é definir medidas de proteção à saúde pública sem desmantelar a economia.
Quando esse quadro de dificuldade estiver superado saberemos o real tamanho de nossas insuficiências em termos de rede básica de saúde, hospitais de média e alta complexidade, indústria nacional de fármacos e insumos médico-hospitalares etc. É provável que todo o sofrimento de milhares de famílias em face da perda de entes queridos amadureça a sociedade para um exercício mais consciente da cidadania.
No setor primário da economia – agricultura, pecuária, pesca, fruticultura exploração mineral etc. – a presença da ciência e da tecnologia se intensificará, bem como o crescente emprego de recursos digitais. O desempenho da agricultura vem sendo definido há décadas pelo conhecimento científico, mas não são todos os estamentos de produtores, trabalhadores e empresários rurais que têm acesso a ele.
Políticas públicas devem ser criadas nessa direção. E nessa área vislumbramos grandes oportunidades de interação entre ações de entes públicos e privados. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e as Federações estaduais de agricultura, junto com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), têm grande contribuição a dar – como estão dando há mais de duas décadas para a modernização do campo. Um fator novo e alvissareiro é o surgimento de centenas de startups com projetos que melhoram a gestão e otimizam o aproveitamento dos recursos humanos, técnicos e naturais dos estabelecimentos rurais de pequeno e médio porte.
Nosso otimismo reside na expectativa de que o envolvimento articulado e cooperativo de todos esses agentes – Senar, CNA, Faesc e startups – com o apoio estatal através do Ministério da Agricultura representará geração, transmissão e difusão de tecnologias acessíveis que acelerarão o desenvolvimento do campo.