APICULTURA: Assistência técnica aumenta produtividade em SC

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Técnicos prestam assistência na produção e na gestão das propriedades.

Apicultores assistidos pelo programa ATeG do Senar/SC elevam produção em 35%

Dona Zeni e seu Carlos da Silva são produtores de pólen apícola em Santa Catarina. Moradores de São José, na Grande Florianópolis, eles administram 200 colmeias de abelhas espalhadas em cinco municípios da região metropolitana e comercializam uma tonelada de pólen por ano. A produção gera renda de R$65 mil por safra anual e se tornou principal atividade econômica da família.

“No primeiro ano de produção de pólen nós conseguimos comprar um carro zero à vista. Melhorou nossas vidas”, conta Zeni. O pólen apícola é resultado da aglutinação do pólen e do néctar das flores com substâncias salivares das abelhas e tem alto valor agregado. Cada quilo do produto é vendido por R$65, dez vezes maior que o valor do mel, cotado hoje entre R$ 6 e R$ 8 ao quilo.

A família Silva faz parte do grupo de produtores atendidos pelo programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC), órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc). O programa, em parceria com os sindicatos rurais de São José, Orleans e Vidal Ramos, atende atualmente 110 propriedades em 23 municípios. O objetivo é acompanhar a produção dos apicultores, auxiliar no trabalho de campo e orientar no gerenciamento das atividades e na gestão dos negócios. Desde 2016, o ATeG já atendeu 180 produtores e tem alcançado resultados impactantes para a cadeia produtiva. Segundo a coordenadora estadual do programa, Paula Araújo Dias Coimbra Nunes, a assistência técnica e gerencial ajudou a aumentar em 35% a produtividade dos apicultores no Estado.

“O programa auxilia na organização das propriedades e na verticalização da atividade, com acompanhamento técnico mensal, o que dá maior segurança aos produtores e possibilita investimentos mais calculados. Pequenos ajustes mudam completamente o cenário e incrementam a produção”, ressalta Paula.

“Com a ATeG nós aprendemos técnicas para reduzir custos e melhorar a colheita, através de pequenas mudanças, como fazer em casa as lâminas de cera e as fitas para combate de ácaros. Estamos colocando em prática e já sentimos que o nosso trabalho melhorou bastante”, conta Zeni.

É o que também aponta o apicultor Cristiano Eiyng, morador de Orleans, no sul do Estado. Ele produz 50 toneladas de mel por ano, com 1.000 colmeias. A apicultura é atividade principal e uma tradição da família. Segundo Cristiano, que está no primeiro ano de ATeG, o programa aumentou a produtividade, através do melhoramento genético das abelhas. “Aprendemos a selecionar e a criar um núcleo das abelhas rainhas, o que melhorou muito a produção. Não sabíamos fazer isso e o programa ensinou o passo a passo, tudo na prática”.

MERCADO

O presidente do Sistema Faesc/Senar-SC, José Zeferino Pedrozo, destaca que Santa Catarina produz o mel eleito cinco vezes o melhor do mundo, título que orgulha a cadeia produtiva e o setor do agronegócio. No Estado, 10 mil famílias com 300 mil colmeias garantem produção de 6.000 toneladas de mel por ano. Todo esse volume abastece o mercado interno e grande parte é exportada, especialmente para os Estados Unidos e para a Alemanha, o que também coloca Santa Catarina como o maior exportador do Brasil.

“O programa ATeG tem grande participação nestes números que mostram a força da apicultura catarinense. Ele qualifica a produção, com acompanhamento direto no campo, melhora os resultados com assistência técnica e gerencial aos apicultores e fortalece o setor com investimentos na base”, sublinha Pedrozo ao destacar que as duas maiores agroindústrias exportadoras de mel são catarinenses: Prodapys, de Araranguá e Minamel, de Içara.

O aumento da produtividade também é enaltecido pelo superintendente do Senar/SC, Gilmar Zanluchi. Ele cita que a melhora em 35% nos resultados certifica a importância da assistência técnica e impõe maior responsabilidade. “Temos uma atividade em ascensão e um produto muito bem valorizado que é destaque no mundo todo. Nossa contribuição é continuarmos fortalecendo a cadeia produtiva, mantendo-a qualificada e competitiva. Esses são os objetivos da ATeG”.

COMO FUNCIONA O PROGRAMA

Os técnicos em apicultura da ATeG, Joyce Teixeira, José Carlos Firpo e Ricardo Scasso, detalham que a assistência técnica e gerencial nas propriedades acompanha os apicultores em todos as etapas de produção, desde atividades de campo até processos gerenciais. Durante dois anos, os técnicos fazem visitas mensais aos produtores e controlam de perto a evolução da atividade. O trabalho tem transformado os manejos, através de orientações sobre controle da nutrição, sanidade, genética, manejo dos espaços, controle populacional e análise de gestão.

Joyce atende a equipe da região metropolitana de Florianópolis e tem o desafio de viabilizar o registro do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) para regulamentar a comercialização aos produtores. A região estuda a criação de um consórcio entre os municípios para garantir que os apicultores possam vender mel e subprodutos livremente no mercado regional. Hoje, eles precisam submeter a produção a entrepostos, o que reduz a margem de lucro.

“A região produz 90 toneladas de mel por ano e a nossa maior batalha é ajustar a comercialização para assegurar melhor os produtores”, afirma Joyce ao adiantar que o programa ATeG resultou no aumento da produtividade local. “Produtores com 600 colmeias que produziam 8kg de mel por caixa com um ano de ATeG já estão colhendo 20kg por caixa. A atividade que era uma alternativa de renda para 80% dos produtores, hoje é atividade principal”, relata. Além do mel, os apicultores produzem própolis e pólen apícola. A safra é no período quente do ano, entre dezembro e maio.

O técnico Ricardo Scasso, que atende produtores do sul do Estado, destaca que a safra do mel deste ano está melhor que a do ano passado e já registra 50% de aumento na produção. Segundo ele, a mudança climática está alterando o sistema floral e provocando uma colheita atípica. “Até novembro do ano passado, a colheita estava ruim, a florada não estava acontecendo. Neste ano, há um descontrole floral que favoreceu a produção. Os apicultores foram beneficiados pela natureza e com a contribuição da ATeG, estão produzindo o dobro da safra anterior”, explica.

A região sul produz 400 toneladas de mel por ano. Segundo Scasso, dos 29 produtores atendidos pelo programa no momento, 11 têm a apicultura como atividade principal. “No grupo, nós tivemos aumento no número de colmeias, além do aumento de 40% na produção de mel que representa 24% acima da média da região sul. Os apicultores estão vendo resultado e investindo mais”, sublinha Scasso.

Na região do vale do Itajaí, os 29 apicultores de sete municípios atendidos pela ATeG produzem 55 toneladas de mel por ano. Em sete meses do programa, de acordo com o técnico José Carlos Firpo, os produtores aumentaram em 20% a produtividade. “O método de multiplicação dos enxames está transformando a produção e trazendo evolução aos apicultores. Antes, a preocupação era com a captura das abelhas e agora eles estão mudando o pensamento, produzindo e multiplicando os enxames, o que aumenta e melhora a colheita”, explica Firpo.

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