Por Oscar D’Ambrosio
Uma das características da tragédia, segundo Aristóteles, é que ela trata de personagens que estão numa elevada posição na sociedade que cometem uma falha. A partir daí, a sua realidade desmorona. E partem então em busca de alguma forma de redenção, que pode ser expiando os pecados, por exemplo.
O filme ‘Rainha de Copas”, produção sueco-dinamarquesa, mostra justamente a saga de uma advogada bem-sucedida que lida com abusos cometidos contra crianças e adolescentes. Vive com um homem que está em seu segundo casamente, com quem tem gêmeas. Tudo parece estar predestinado ao equilíbrio até que um novo elemento se insere na narrativa.
O filho de seu marido, um adolescente problemático, expulso de vários colégios, passa a viver com eles. E tudo desestabiliza, principalmente a vida sexual da advogada. Ela nutre uma paixão pelo rapaz, com quem passa a ter um relacionamento com consequências em sua vida pessoal e profissional.
A situação de certa harmonia se torna uma sequência de tensões, que afetam a relação com o marido, com o emprego, com os amigos e com a família. No desfecho, é claro que o lado mais fraco da corrente, o adolescente, é o que acaba sofrendo mais. É colocado num beco sem saída, sem saber em quem confiar e qual poderia ser o seu futuro.
A diretora dinamarquesa May el-Toukhy leva a narrativa justamente numa dimensão trágica, em que a protagonista e todos os envolvidos saem machucados. Ficam em todos marcas de uma relação que ninguém consegue sustentar. A dimensão trágica se instaura e vence, deixando ao seu redor apenas perdedores.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.