Questão de obediência
Oscar D’Ambrosio
Devemos obedecer a hierarquia mesmo quando ela está equivocada? Essa é a grande pergunta que o filme “Segredos Oficiais” faz. Dirigida por Gavin Hood, a obra conta a história verídica de Katharine Gun. Ela atuava como tradutora de uma agência de inteligência britânica e tentou que a guerra do Iraque não ocorresse, vazando um e-mail secreto.
O documento provava que os EUA e o Reino Unido exerceram diversas formas de pressão, algumas inclusive eticamente questionáveis, na esfera internacional para que houvesse uma votação favorável à invasão do país árabe, o que ocorreu em 2003. A protagonista agiu em nome da paz mundial, mas isso não impediu que enfrentasse numerosas pressões internas.
A batalha judicial em que ela foi envolvida mostra as diversas facetas de uma questão de enorme complexidade, inclusive enfocando os bastidores do jornal inglês “The Observer”, que publicou o documento apenas após uma checagem cuidadosa para verificar se era verdadeiro e, mesmo sabendo disso, avaliou cuidadosamente as repercussões do caso.
O filme gera uma boa oportunidade para refletir sobre qual dimensão deve se sobrepor em temáticas associadas à obediência. Seria o bem maior da humanidade, evitando a guerra; ou a fidelidade ao chefe, no caso o país? Deve-se agir em função dos próprios valores ou obedecer cegamente a quem paga os salários? Ao suscitar essas questões, a obra vale muito a pena.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Coordena o projeto @arteemtempodecoronavirus e é responsável pelo site www.oscardambrosio.com.br
