Consumo de bebidas alcoólicas pode reduzir o risco de infecção da covid-19?

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Consumo de bebidas alcoólicas pode reduzir o risco de infecção da covid-19?

Por Laura Cury

Diversas mensagens estão circulando na internet, algumas em tom de piada, afirmando que o consumo de bebidas alcoólicas pode ajudar a reduzir o risco de infecção pelo coronavírus. Muitas dessas mensagens recomendam o uso do álcool para beber, além de limpar e higienizar.

O problema é que algumas pessoas estão seguindo à risca essas recomendações absurdas, que não têm fundamentação científica alguma e oferecem risco à vida. No Irã, por exemplo, cerca de 300 pessoas morreram de intoxicação após consumirem metanol tóxico na esperança de que a bebida alcoólica ajudaria a curar o novo coronavírus.

É importante esclarecer: o álcool pode, sim, ser utilizado para desinfetar as mãos de pessoas e superfícies de objetos contra a covid-19, mas em grau etílico de 70%, condição que propicia a desnaturação de proteínas e de estruturas lipídicas da membrana celular, e a consequente destruição do microrganismo. Apenas para efeito de comparação, a vodka pode chegar a ter, no máximo, 40% de teor alcóolico.

O consumo de bebidas alcoólicas não oferece proteção contra o coronavírus ou qualquer outra infecção, muito pelo contrário como explica Maristela Monteiro, assessora em consumo de álcool e substâncias psicoativas da Organização Panamericana da Saúde (OPAS): “O álcool é uma substância imunossupressora e facilita a infecção por todo tipo de vírus, inclusive o coronavírus. O único álcool que pode ser utilizado com esse propósito é o que desinfecta a pele, não o que ingerimos.”

Não é de hoje que pesquisadores observam uma associação entre o consumo excessivo de álcool e efeitos adversos relacionados ao sistema imunológico, como a suscetibilidade à pneumonia, conforme mostra o artigo Alcohol and The Immune System, publicado na revista Alcohol Research: Current Reviews, em 2015.

Além do engano sobre os falsos poderes anti sépticos da ingestão de bebidas alcoólicas, à medida que o distanciamento social se instala, o estresse, a solidão e a depressão podem aumentar, ampliando também o consumo dessas bebidas. Segundo Sabrina Pressman, psicóloga e vice presidente da Associação brasileira de estudos do álcool e outras drogas (Abead): “A desesperança também é um dos fatores de risco e envolve a falta de motivos para cuidar de si mesmo e o excesso de motivos para se anestesiar. Abrir mão do prazer do uso da droga e manter-se abstinente tem um propósito quando você quer conquistar objetivos.”

É preciso alertar a população para a prevenção do consumo de bebidas alcoólicas em casa, já que muitas pessoas estão comprando essas bebidas para estocar e consumir durante a quarentena. Perante a crise, estão surgindo relatórios indicando um número crescente de casos de violência doméstica e de abuso e negligência de crianças – situações que muitas vezes também estão relacionadas ao uso abusivo do álcool.

Mais do que nunca, é importante que as pessoas não acreditem em boatos que circulam na internet e não utilizem o álcool de maneira abusiva para aliviar o estresse, o que pode causar ainda mais problemas de saúde e sociais. Deve-se buscar informações técnicas em veículos de comunicação de credibilidade e em instituições oficiais, como o Ministério da Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em tempos de pandemia, usemos o álcool apenas para limpar as mãos.

Laura Cury é assessora em Relações Internacionais da ACT Promoção da Saúde e integrante do Comitê para Regulação do Álcool (CRA), apoiado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP).

 

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