Douglas Menezes, é o artigo de José Ambrósio

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José Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras

Por José Ambrósio*

Tentei. Juro que tentei ainda ontem escrever e descrever os meus sentimentos, mas não consegui ir além de algumas frases soltas. A incredulidade me paralisava e me acompanhou até a colocação do último tijolo no túmulo do amigo Douglas Menezes. A incredulidade de quem não entende a separação abrupta, algo até certo ponto egoísta, mas natural nos momentos de dor, de choque diante do inesperado desenlace de alguém muito querido.

Não mais o abraço amigo, a saudação sempre em tom de rouquidão e o sorriso também rouco e discreto.

Não mais a conversa agradável, sóbria, esclarecedora e enriquecedora, própria de quem sabe muito e está sempre atento aos acontecimentos do mundo e da sua terrinha. E como ele conhecia a sua terra e a sua gente; coisas e gente de ontem e de hoje, matérias-primas para um não parar de escrever e descrever com intenso realismo o cotidiano da cidade que o viu nascer, crescer e se tornar um dos seus filhos mais ilustres, de quem nos despedimos ontem.

Sim. É triste, mas ontem nos despedimos do principal cronista do Cabo de Santo Agostinho na atualidade. Professor, poeta, contista, cronista, escritor, um operário das letras – como o descrevi em crônica de 30 de dezembro do ano passado, quando tive a felicidade de o encontrar caminhando, com seu jeito simples – Douglas Menezes literalmente registrou com muita grandeza o seu nome na história de uma cidade com muitas histórias para contar.

Não mais vivenciar casos e causos da cidade por quem ele era apaixonado. Sua narrativa nos fazia passear pela cidade sentindo os cheiros, ouvindo os ruídos das ruas, avenidas, becos, ladeiras; conhecendo e reencontrando personagens, inclusive muitos anônimos, quase invisíveis, mas que eram enxergados pelo olhar arguto do cronista que transbordava sensibilidade, talento, maturidade e solidariedade.

Não mais a leitura inteligente e coerente de letras de musicas que fazia com maestria. Músicas engajadas, mas também músicas românticas, regionais.

No entanto, muito permanece. Seu trabalho está imortalizado. O que escreveu será lido e relido todos os dias por gerações, por quem queira saber da cidade e da sua gente. Como a garotinha de nove anos de idade que ganhou de presente o seu último livro, “Uma canção, por favor”, e que o tem como se tem a uma Bíblia, como testemunhou seu tio (que não conheço), ao final do sepultamento.

Como bem disse o artista plástico e escritor Ivan Marinho, da Academia Cabense de Letras, também nos últimos minutos da despedida, Douglas Menezes vive. Seu legado é rico, abrangente, intenso e grande. Como grande será a responsabilidade de quem vier a assumir a cadeira de número 11 da Academia Cabense de Letras, que ele valorizou e honrou até o último instante.

Até um dia, amigo.

Candeias, 28 de fevereiro de 2020.

*Jose Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras

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