Transmutando o Espírito
Paulo Eduardo de Barros Fonseca
Jesus trouxe-nos seus ensinamentos por parábolas, numa clara demonstração de que é necessário contextualizar as situações e entender as entrelinhas contidas nas mensagens para que sejamos capazes de entender e enxergar a verdade.
Suas lições são para sempre porque, além de trazerem novos entendimentos a cada estudo, enfocam situações alegóricas e hipotéticas do cotidiano.
Mais ainda, por seus atos e atitudes, portanto, pelo exemplo, demonstrou-nos que a lição divina é possível de ser aplicada e vivenciada pelo homem.
Muito embora passe despercebido para muitos, essa talvez seja a grande mensagem subliminar contida em seu ministério, que veio renovar a lei mosaica dando-lhe vida. Quando maliciosamente indagado sobre qual era maior preceito da lei disse: “O maior mandamento é este: amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.” e continuou: “o segundo é semelhante a este: amarás o teu próximo como a ti mesmo” tendo concluído: “Nestes dois mandamentos estão contidos toda a lei e os profetas.” (Mateus 22,34-41 – Marcos 12, 28-34).
Essa lição, se entendida e praticada, trará a mudança do eu para o nós, ou seja, você e eu, porque causará a grande fusão que o homem deve fazer, reconhecendo o seu semelhante como o teu próximo e que nele está refletida a imagem de Deus, transmutando-o em outro.
Allan Kardec, o codificador do espiritismo, escreveu que “amar ao próximo como a si mesmo é fazer aos outros como quereríamos que nos fizessem” constituindo-se na “expressão mais completa da caridade, porque ela resume todos os deveres para com o próximo” e “não se pode ter , neste caso, guia mais seguro, do que tomando como medida do que se deve fazer aos outros, o que deseja para si mesmo.” (in O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução: Notícias Históricas, item III).
A lição é simples de ser entendida, mas difícil de ser praticada. Isso porque o homem ainda é movido pelo orgulho, pelo egoísmo, pela vaidade, enquanto vícios que o afastam da verdade.
Daí a necessidade da busca constante e persistente da reforma íntima, do conhece-te a si mesmo, que pode ser comparada ao fato de tirarmos uma roupa usada, suja e puída pelo tempo para vestirmos outra nova.
Essa postura, quando praticada, resulta numa verdadeira transmutação do espírito porque faz com que, paulatinamente, nos transformemos em seres melhores e que trilham no caminho da solidariedade, da fraternidade, da paz interior e universal, traduzindo, assim, em atos a atitudes a essência divina que é o Amor.
A procura da perfeição não pode ser alcançada sem o equilíbrio entre as polaridades de que o homem se reveste.
Paulo Eduardo de Barros Fonseca é Vice-Presidente do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.