“Quarentena”, é o artigo de José Ambrósio

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*José Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras

Por José Ambrósio*

Como milhões de pessoas em todo o mundo, estou em isolamento em um apartamento. Desagradável? Sim, muito, mas necessário. A gravidade do momento que vivemos é muito séria, a mais séria das cinco décadas em que testemunho os acontecimentos em nosso país.

Ruas desertas (poucas pessoas transitam, desconfiadas, claro, buscando um correto distanciamento das outras sabendo que elas estão fazendo o mesmo). Natural e recomendável, para se proteger.

Bares, lanchonetes, salões de beleza e outros comércios, fechados. Festinhas com amigos só se for em casa, em número reduzido, embora não recomendável. Até porque, o momento é de solidariedade, precaução, colaboração, e não de festividade.

Os encontros com amigos e amigas em barbearias e salões de beleza vão ter que esperar. Cabelos brancos serão vistos com mais frequência (ou não, devido à quarentena). Que bobagem, eles embelezam, tornam as pessoas mais naturais em tempos de humildade (reconhecimento de que todos são igualmente vulneráveis) e recolhimento. Importante é contribuir com o enfrentamento à pandemia que, com certeza, vai causar muitos sofrimentos e perdas materiais e humanas.

As igrejas também fechadas, o que não impede as orações que se multiplicam nos lares e nas redes sociais.

Nos lares a convivência mais demorada com familiares é sempre muito bacana, como costumam ser bacanas os finais de semana prolongados com os feriados de sexta e segunda, quando as coisas estão em ordem. Mais tempo para os filhos, netos (guardados os devidos cuidados), parentes. Mais tempo para ler, assistir a filmes, exercitar habilidades artísticas, artesanais, culinárias.

Pelo que se observa do noticiário os pernambucanos começam a compreender a gravidade do momento e estão ficando mais em casa. Isso apesar de a Polícia Militar ter ido a praias e outras áreas da Grande Recife para convencer pessoas a retornarem para suas casas. Quanto menos exposição, menos contaminação e menos transmissão do coronavírus.

As praias de Candeias, Barra de Jangada e Piedade (meu habitat) estão vazias. Pelo Calçadão de Candeias, um número mínimo de pessoas caminhando, além daquelas que conduzem seus “pets”. As tradicionais barracas das praias, sempre cheias nesse período, já não são vistas. O que deixa a olhos vistos os problemas que as pessoas que sobrevivem do trabalho informal começam a enfrentar. Sobretudo as que ganham o sustento fazendo “bicos”e “ôias”.

A fome e a miséria vão se alastrar. Como ensinava o saudoso arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara, “Quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes.” É assim que os governantes nos três níveis (federal, estadual e municipal) precisam encarar esse grave problema. É urgente que encontrem meios de assistir essas e outras famílias (milhares em Pernambuco) que estão desempregadas e na informalidade assegurando-lhes o mínimo de dignidade.

Da nossa parte, nós, o povo, vamos sim lavar as mãos, fazer todos os procedimentos médicos e tomar todos os cuidados recomendados. Mas, sobretudo, vamos nos dar as mãos. A solidariedade tem sido fundamental nesses momentos e os pernambucanos sempre se somam e fazem a diferença.

Candeias, 21 de março de 2020.

*José Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras

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