
Reflexo da Pandemia
Paulo Eduardo de Barros Fonseca
Parece-me evidente que a humanidade vive momentos de grande controvérsia. De um lado, constatamos o enorme avanço da ciência e da tecnologia o qual, de outro lado, se contrapõe a uma enorme hediondez dos sentimentos e das emoções.
É de se lembrar que de nada valem as conquistas do intelecto e da matéria quando nos deparamos com a dissolução do contrato social estabelecido, o qual foi e é orientado por valores que são fundamentais para a estabilidade da sociedade. Percebe-se que parte da sociedade moderna se distancia dos valores culturais, éticos e espirituais, deixando se envolver e tentando impor uma realidade meramente materialista.
Mas essa controvérsia se justifica num momento em que o planeta passa por uma grande transição espiritual que a todos dá a oportunidade de elevar-se além de si mesmo para se adequar a uma nova ordem planetária.
Neste momento histórico da humanidade, e como artífices da construção de uma sociedade mais equilibrada, os valores da sociedade humana, construídos e sedimentados a partir de um longo passado coletivo não devem ser menosprezados, mas devem ser examinados sob a ótica do bom senso e respeito. Cada pessoa deve fazer possível reconhecer o seu papel enquanto indivíduo na sociedade, na família e dentro de nós mesmos.
Sócrates, o pai da filosofia, já exortou: Conhece-te a si mesmo. Essa provocação nos instiga a busca do autoconhecimento que nos levará as profundezas do nosso interior, de modo que, em se reconhecendo, possamos lidar conosco mesmo e com o mundo.
Num processo de reflexão, se nos permitirmos lembrar que o nosso corpo é transitório e que as conquistas materiais são perecíveis e passageiras, pois não nos acompanharão quando findarmos nosso compromisso material, certamente nos reconheceremos como pessoas diferentes da que somos e buscaremos dar importância ao que realmente tem valor que são os valores morais e espirituais.
Como na parábola bíblica dos trabalhadores da última hora, neste momento de transição planetária, somos convidados para fazermos nossa reforma íntima e, consequentemente, para sermos agentes ativos na construção de um mundo mais justo e perfeito onde o amor abranja seu verdadeiro e singelo significado.
Essa postura, se e quando praticada, resulta numa verdadeira alquimia em nosso espírito porque faz com que, paulatinamente, nos transformemos em seres melhores e que trilham no caminho da solidariedade, da fraternidade, da paz interior e universal, traduzindo, assim, em atos a atitudes, a essência divina que é o Amor.
Que o reflexo da pandemia seja a sua transformação!
Paulo Eduardo de Barros Fonseca é vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.