Trem da Vida, é o artigo de Paulo Eduardo de Barros Fonseca

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Paulo Eduardo de Barros Fonseca é vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Trem da Vida

Paulo Eduardo de Barros Fonseca

Há algum tempo recebi de um amigo uma mensagem, cujo autor não consegui identificar, que compara a vida a uma viagem de trem “com muitos embarques e desembarques, de pequenos acidentes pelo caminho, de surpresas agradáveis em alguns embarques e de tristezas com outros”.

Diz a mensagem que quando nascemos, “ao embarcamos num trem e encontramos duas pessoas que acreditamos farão conosco a viagem até o fim: nossos pais. Infelizmente, isso não é verdade porque em alguma estação eles desembarcam, deixando-nos órfãos de seus caminhos, proteção, amor e afeto. Mas isso não impede que durante a viagem embarquem pessoas interessantes, que virão ser especiais para nós: nossos irmãos, amigos e amores.

Muitas pessoas tomam esse trem a passeio. Outras fazem a viagem experimentando somente tristezas. E no trem há, também, outras pessoas que passam de vagão em vagão, prontas para ajudar quem precisa.

Muitos descem e deixam saudades eternas. Outros tantos viajam no trem de tal forma que, quando desocupam seus assentos, ninguém sequer percebe.

Curioso é considerar que alguns passageiros que nos são tão caros acomodam-se em vagões diferentes do nosso. Isso nos obriga a fazer essa viagem separados deles. Mas não nos impede de, com grande dificuldade, atravessarmos nosso vagão e chegarmos até eles. O difícil é aceitarmos que não podemos sentar ao seu lado, pois outra pessoa estará ocupando esse lugar.

Essa viagem é assim: cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, embarques e desembarques. Esse trem jamais volta, faz somente uma viagem de ida…

Mas, independentemente disso, é importante que façamos essa viagem da melhor maneira possível, tentando manter um bom relacionamento com todos, procurando o que cada um tem de melhor, lembrando sempre que em algum momento do trajeto poderão fraquejar, e, provavelmente, precisaremos entender isso. Nós mesmos fraquejamos algumas vezes. E, certamente, alguém nos entenderá!

O grande mistério é que não sabemos em qual parada desceremos!

E fico pensando: quando eu descer desse trem sentirei saudades? Sim. Deixar filhos viajando sozinhos será muito triste. Separar-me dos amigos que nele fiz, do amor da minha vida, será para mim dolorido.

Porém, me agarro na esperança de que, em algum momento, estarei na estação principal e terei a emoção de vê-los chegar com sua bagagem, que não tinham quando embarcaram. E o que me deixará feliz é saber que, de alguma forma, eu colaborei para que essa bagagem tenha crescido e ser tornado valiosa.

Agora, nesse momento, o trem diminui sua velocidade para que embarquem e desembarquem pessoas.  Minha expectativa aumenta à medida que o trem vai diminuindo sua velocidade: Quem entrará? Quem sairá?

Eu gostaria que você pensasse no desembarque do trem, não só como a representação da morte, mas, também, como o término de uma fase da história. De algo que duas ou mais pessoas construíram e que, por motivo ínfimo, deixaram desmoronar.

Fico feliz em perceber que certas pessoas como nós, têm a capacidade de reconstruir para recomeçar. Isso é sinal de garra e luta, é saber viver, é tirar o melhor de ‘todos os passageiros’.

Agradeço muito por fazer parte da minha viagem e, por mais que nossos assentos não estejam lado a lado, com certeza o vagão é o mesmo.”.

André Luiz, no livro Respostas da Vida, já ensinou que a vida é dom de Deus em todos. Quem serve só para si não serve para os objetivos da vida, porque viver é participar, progredir, elevar, integra-se. Se aspirarmos viver melhor, escolhamos o lugar de servir na causa do bem de todos.

Dentro do livre-arbítrio cada pessoa faz suas escolhas. Que elas sejam as melhores possíveis para que um dia, “na estação principal”, possamos ser recepcionados e recepcionar aqueles que fizeram parte da nossa viagem terrestre.

Paulo Eduardo de Barros Fonseca é vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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